22.10.09

Rodolfo Alonso en portugués 3

“DURO MUNDO”
(Santa Fe, 1959)

Traduções de José Augusto Seabra



DURO MUNDO

“Chau, Amargura.”
Roberto Arlt


1
ágil no meio da manhã
das cidades que me condenam e do vento que me inícia
tenho direito a tanto

à carícia ao mais rotúndo abraço
vou aprendendo a respirar


2
deito-me levanto-me
vou conhecendo os dedos do clima
faço os meus dias com os outros
e agito algumas palavras como tantas


3
e atrevo-me a dizer estou crescendo

e atrevo-me a dizer
há que apoiar o peito sobre o mundo
para esgotar a luz da aventura
as naves do desvelo
o passo livre através das lendas


4
vou cohecendo as vozes dos inocentes
do primeiro caído por sorrir

o sabor dos meus anos acolhidos sem destreza


5
queria falar de mim
sem esqueçer ninguém


6
faço o amor
o amor nas praças e nas ruas
en todos os rincós da história

e não conheço pedras
no amor


7
sím há gestos que me convocam
outros acolhem a minha ternura

há uma altura doce que me comove as horas


8
ela falará por mim


9
uma ciência treme-me no alento
o caminho rebelde
a aurora bem nascida

e os remorsos
sentina do meu voo


10
ninguém se negue a começar
a rir

e todavia ainda não nos conhecemos

conhecemo-nos demais
até que a poesia estale
como uma palavra verdadeira


11
pela noite sei permanecer
sei crescer e conhecer-me
ou deixarme cair desprevenido
sobre os meus semelhantes junto aos meus semelhantes


12
e isto não custa muito
e este corpo sem ar é um silêncio enorme


13
construí o meu domínio
tenho o dia a cidade o peito da chuva
a liberdade como uma mão


14
e para recordar
sei quanto pesa a esperança


15
a esperança
a tua mão sobre mim

mão para brincar a ver como vamos
mão começa o tempo

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